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População carcerária
concentra casos da doença no Brasil e na América Latina, mostra pesquisa.

O Brasil teve um custo
direto de mais de US$ 1,3 bilhão (cerca de R$ 7,36 bilhões na cotação atual)
entre 2015 e 2022 com a tuberculose, aponta artigo publicado na revista
científica The Lancet Regional Health.

Do valor investido durante
os sete anos analisados, US$ 23,5 milhão (R$ 133 milhões) foram destinados ao
retratamento de pacientes —aqueles tratados mais de uma vez. A pesquisa levou
em conta investimentos com profissionais da saúde, medicação, exames laboratoriais
e duração do tratamento, segundo dados do Sinan (Sistema de Informação de
Agravos de Notificação).

A tuberculose é
correlacionada à pobreza, segundo a pesquisadora colaboradora da Fiocruz
(Fundação Oswaldo Cruz) Beatriz Duarte, co-autora do estudo. "Para pessoas
vulnerabilizadas atingirem o nível de cura, elas precisam de investimentos mais
altos", afirma.

As populações que mais
custam ao sistema de saúde para atingir 90% de probabilidade de cura— meta
estipulada pela OMS (Organização Mundial da Saúde)— são as pessoas em situação
de rua, dependentes químicos e pacientes em retratamento. "Eles têm uma taxa
de abandono do tratamento altíssima, tornando-se fontes de transmissão",
diz Duarte.

Apesar disso, esses grupos
são também os que possuem o maior impacto positivo ao serem encaminhados para o
TDO (Tratamento Diretamente Observado) –estratégia baseada na supervisão de
profissionais de saúde na aplicação de medicações prescritas.

"O alarme que fazemos
é que o custo seria reduzido se o SUS (Sistema Único de Saúde) conseguisse
manter essas pessoas até o final do tratamento. Pacientes em retratamento
apresentam maior risco de abandonar o tratamento novamente. Portanto, é crucial
desenvolver uma estratégia de acompanhamento específica para esses casos",
observa a pesquisadora.

Epidemia da doença na
América Latina e a população privada de liberdade

A prisão é o principal
fator de risco para a epidemia da doença na América Latina, conforme um segundo
artigo publicado na The Lancet Public Health nesta segunda-feira (14).

"Chamamos a prisão de
instituição amplificadora da doença", diz o médico e professor da UFMS
(Universidade Federal do Mato Grosso do Sul) e pesquisador da Fiocruz (Fundação
Oswaldo Cruz) Julio Croda, um dos autores do artigo. Condições como superlotação,
ventilação precária, desnutrição e acesso limitado a cuidados de saúde permitem
que a doença se espalhe com mais facilidade.

O estudo revelou que, em
2019, 27,2% dos casos de tuberculose registrados na América Latina estavam
relacionados ao encarceramento. No Brasil, esse número correspondia a 36,9%.

No entanto, apesar de ser
a maioria dos infectados pela doença, a população privada de liberdade
demonstrou maiores índices de cura em relação a outros grupos vulneráveis,
alcançando a probabilidade de 90% de chance de melhora. Isso porque, por essas
pessoas estarem presas, os profissionais de saúde têm maior facilidade para dar
as medicações e não há abandono do tratamento

O estudo mostra que o
fluxo entre comunidades pobres e as prisões é responsável por gerar a epidemia
da doença que atinge países latinos. "As pessoas encarceradas com
tuberculose recebem visitas de familiares e também estão em contato com
trabalhadores do sistema prisional, espalhando a doença", diz Croda.

Para controlar a situação
da doença, Croda defende que existam políticas carcerárias regionais, pois as
taxas de encarceramento são diferentes entre os estados brasileiros, e que
sejam feitas testagens em massa anuais nas pessoas privadas de liberdade para
facilitar o tratamento precoce e dificultar a transmissão da tuberculose fora
das penitenciárias.

Para a advogada
criminalista Márcia Irigonhê, é preciso criar condições adequadas nas celas e
respeitar direitos dos detentos para que doenças como tuberculose parem de
incidir. "Nós temos uma tendência de encarceramento em massa. O Brasil
prende muito e prende mal", diz.

Segundo o pesquisador da
Fiocruz Bruno Andrade, que assina a pesquisa, a tuberculose é uma doença comuns
em países de baixa renda. "A doença incide pouco em países ricos porque há
um investimento sistemático em minimizar as populações em vulnerabilidade
social. Ao reduzir a pobreza, você reduz a transmissão dessas doenças",
explica.

Este projeto é uma
parceria com a Umane, associação que apoia iniciativas no âmbito da saúde
pública.

Custo da tuberculose no Brasil ultrapassou R$ 7 bi em sete anos

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