Especialistas alertam: risco de volta da paralisia infantil é real
26 de setembro de 2022Por desconhecer casos de pessoas afetadas pela doença, atual geração de pais desconsidera a necessidade de imunizar os filhos.
Os baixos índices de imunização das crianças contra a poliomielite registrados nos últimos anos têm preocupado autoridades sanitárias e especialistas, que temem o retorno de uma doença capaz de deixar sequelas permanentes e levar à morte.
O Brasil recebeu o certificado de eliminação da poliomielite em 1994, mas o risco de reintrodução da paralisia infantil no país é real. Diante do desempenho frustrante, o Ministério da Saúde prorrogou até o final do mês a campanha inicialmente prevista para terminar em 9 de setembro.
A doença é endêmica em países como Afeganistão e Paquistão. Neste ano, Israel e Malauí registraram diagnósticos de pólio. O Estado de Nova York, nos Estados Unidos, declarou emergência há duas semanas após constatar o retorno da circulação do vírus, encontrado no esgoto. No Brasil, o caso de uma adolescente de Roraima estava em investigação no início deste mês.
Médica alergista e imunologista, Mariele Morandin Lopes alerta que é muito fácil a pólio reaparecer devido à intensa circulação de pessoas. Basta a presença de alguém contaminado para disseminar o vírus. O grupo sob maior risco é o da faixa etária até cinco anos.
- Criança coloca muito a mão na boca. De repente, ela pode ter contato direto com o vírus ou comer algo contaminado. O vírus vai para o intestino e é expelido nas fezes. Quem manipula as fezes da criança pode acabar se contaminando e passando adiante. As crianças infectadas podem ter casos bem variados, desde os mais leves, como virose simples, até os graves, que levam à paralisia - explica Mariele.
Cenário
Para a pediatra Mônica Levi, diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim) e presidente da Comissão de Revisão dos Calendários Vacinais da entidade, o risco da volta do pesadelo da pólio não é teórico, mas real, a exemplo do que ocorreu com o sarampo. A pandemia de coronavírus, que mobilizou o setor de saúde por completo, impactou as coberturas vacinais contra doenças em diversos países. A disseminação de fake news também contribuiu para as baixas adesões.
- A vacinação
contra a pólio está muito aquém do necessário. Por mais que a gente esteja cansado de falar, eu diria que a maioria da população não tem a menor ideia de que os filhos correm o risco de ter paralisia infantil. Os pais dessa geração nunca viram pólio, perna mecânica, respirador para manter o paciente vivo. É falha na conscientização da população sobre a importância de manter altas coberturas vacinais - reflete Mônica.
Zé Gotinha
Faltam também campanhas educativas efetivas, ressalta a pediatra, como as que deram fama ao Zé Gotinha nos anos 1990.
- O mundo mudou, as formas de comunicar precisam mudar. No passado, em todo lugar tinha gotinha. As crianças queriam ir tomar gotinha. A Xuxa falava nisso. Era muito importante a forma de comunicar - relembra Mônica.
Não se deve, adverte a diretora da Sbim, esperar o "susto" da confirmação de um registro de poliomielite no Brasil - o que certamente levaria muitas famílias às unidades de saúde.
- Quando tem notícia de febre amarela, os postos e as clínicas lotam, são horas de fila. As pessoas funcionam com o medo, mas é errado ter que correr atrás do prejuízo. Será muito triste ter um caso noticiado de paralisia infantil e daí "corra quem puder". Agora é a hora. Dá tempo de a gente se proteger - diz a pediatra.
Casos de paralisia de membros devem ser notificados e encaminhados para investigação, informa Mônica. Além disso, deve-se manter boa vigilância ambiental, com análise de amostras de esgotos.
- Temos que procurar o vírus da pólio. Fora isso, é vacinar, vacinar, vacinar - afirma a pediatra.
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